Carnaval

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Aquelas semanas de fevereiro passaram voando.
Como imaginara, minha vida ficou bem mais atribulada com as aulas, o D.A. e o estágio. Mas até que eu levava as coisas bem. Eu era muito agitada, e até hoje agendas cheias não me assustam.

O feriado de Carnaval havia finalmente chegado e aquele sábado seria o primeiro dia dos nove que estaria de folga. Minha turma, em acordo com os professores, conseguiu enforcar a quinta e a sexta pós-carnaval. Então, só estaria de volta às atividades na outra segunda.

Eu estava achando ótimo me desconectar de tudo, mas sentiria falta dos amigos.
Ainda bem que em minha rua eu tinha Deguinha, minha melhor amiga.
Ela era mais jovem que eu uns 3 anos, mas já era moça feita, muito bonita apesar de ter baixa estatura. Era uma pessoa superanimada, alto-astral e divertida. Mas não era só uma maluquinha qualquer, ela sabia também ser boa ouvinte e conselheira quando necessário.

Como não iríamos viajar naquele feriado - nossas famílias eram amigas e de vez em quando saíam juntas - resolvemos curtir o Carnaval nos blocos de rua no bairro vizinho ao nosso.

Eu não era lá o que se pode chamar de "foliã", ela tampouco.
Nós íamos mesmo só para tomar uma caipifruta, comer um churrasquinho, paquerar e ser paqueradas, e, quem sabe, "ficar" com alguém já que estávamos ambas sem namorado. Eu não estava muito animada para "caçar" naquele ano, mas Deguinha me convenceu de que eu tinha que esquecer Wendell... como se eu precisasse...

Depois de sair de casa - com a recomendação de nossos pais de não abusar de bebidas alcoólicas, evitar lugares ermos e não chegar muito tarde - chegamos na praça e demos uma volta para ter ideia do ambiente geral. Estava animado. Muitas pessoas pulavam com o barulhento bloco que tocava no fim da quadra. Como era um bairro residencial, famílias com suas crianças fantasiadas passeavam para lá e para cá.

Nos afastamos do centro da folia. Paramos num trailer e compramos caipifrutas. De copos na mão, escolhemos um cantinho onde poderíamos conversar e observar a movimentação da aglomeração, ver e sermos vistas.

-- E então, Lia? Já está tudo certo para vocês irem a BH? - perguntou Deguinha. Eu sempre comentava as novidades do D.A. para ela.
-- Ah, sim. Tivemos outra reunião chata na segunda passada e nossas passagens já estão agendadas. - respondi balançando o copo plástico.
-- Sendo assim, então você foi no ônibus de novo com o "Samurai"? - praticamente afirmou animada.

Eu tive que rir. Embora "Samurai" fosse um termo que até poderia descrever Lino fisicamente devido ao seu porte esguio, ele, definitivamente, estava longe de ser um guerreiro destemido...

-- Kamikaze, Deguinha, Kamikaze... - eu tinha mencionado essa estória pra ela quando falávamos sobre cinema. Foi só um comentário. Sem detalhes.

Ela riu alto de si mesma, empurrando meu ombro - ela era mais expansiva do que eu... do que qualquer um, na verdade: -- Ah, você entendeu! - e continuou rindo.

Ri com ela, mas não consegui entender o tom da pergunta. Qual a 'novidade' em eu ir a faculdade com um amigo? Preferi responder.

-- Não, Deguinha... - apoiei o cotovelo na mão - Na última segunda nem fui ao estágio. Tive uma reunião à tarde, na decania. Marconi teve que ir também... - beberiquei meu drinque - Eles só liberaram duas passagens para BH, então teremos que ir somente eu e Marconi... O povo ficou chateado, mas prometeram que para Aracaju poderemos ir em comitiva...
-- Você vai viajar sozinha com um cara? - ela arregalou os olhos.

Ela me conhecia bem e sabia que seria minha primeira viagem com alguém do sexo oposto sem a supervisão de um adulto.

-- O que é que tem? - dei de ombros - Eu já sou maior de idade e não é nada de mais... estamos indo a trabalho. Além disso, Marconi não me interessa. Nós somos só amigos. Já te disse.- completei antes que ela começasse de novo. Desde que contei que estava no D.A., Deguinha vinha insistindo que eu namorasse com Marconi.

Ela fez uma cara de desapontamento. Tomou um gole de sua caipifruta olhando a multidão. Depois olhou de novo pra mim.

-- Ele sentiu sua falta? - perguntou casualmente.
-- Ele quem? - eu estava boiando.
-- O Kamikaze. - ela sorriu - Ele sentiu sua falta quando você não foi ao estágio?

Me lembrei da terça anterior, quando cheguei ao estágio e o rapaz sorriu do balcão.

-- Você não veio ontem... - ele comentou com a mesma calma de sempre.
-- Tive uma reunião ontem à tarde. - respondi guardando minha mochila - Não ia dar tempo de vir pra cá, então liguei para Nini e avisei que não vinha... - sentei ao lado dele.
-- Isso aqui fica muito quieto sem você... - respondeu olhando de soslaio.

Eu sorri.

-- Mas à tarde você tem o Zé pra fazer companhia...
-- Não é a mesma coisa...

Eu ri vaidosa, e ri de novo voltando ao presente.

-- É. Acho que sim. - eu ainda estava vendo a cena - Ele é um cara legal. - e lembrei de outra cena - Não sei como alguém pode não gostar dele... - murmurei.

Minha visão voltou rapidamente para a segunda-feira em que faltei ao estágio.
Saí reclamando da reunião. Marconi andava ao meu lado enquanto nos dirigíamos à parada de ônibus.

-- Ah, justo hoje que Nini e seu Manoel não vão ao trabalho, eu não vou ao estágio... O povo do IF está em fase de renovação de matrículas... - reclamava e gesticulava - Lino e Zé vão ficar com a biblioteca nas costas!
-- Você fala daquele cara "japa" do primeiro período? - perguntou Marconi.

Marconi estava no terceiro período da noite. Devia ver o Lino vez por outra.

-- Lino? Sim, um altão, de cabelo espetado. - respondi confirmando sua hipótese.

Arqueou as sobrancelhas: -- Você trabalha com aquele cara? Ele parece meio babacão... - falou rindo.

Aquilo me chateou.

-- Ei! Olhe como fala dos meus amigos! - franzi o cenho - Ele não é nada babacão. - puxa, que falta de consideração do Marconi! Eu não deixaria alguém falar assim dele. Por que o deixaria falar assim do Lino?
-- Ah, não!? - debochou - O cara nem fala direito... - gesticulou - Ele ficou isolado num canto, só bebendo sua cerveja na festa que os calouros pagaram pra gente depois da aula...

Eu sabia que Lino, literalmente, pagaria para não "pagar o mico" no pátio... Marconi continuou:

-- O pessoal que puxou assunto com ele, me disse que ele só respondia "Sim", "Não" e "Talvez". - e fez uma cara de débil rindo em seguida.

Enfureci!

-- Isso não é verdade!! - minha mão cortou o ar - Ele é um cara caladão e tudo... Mas ele é um cara inteligente, tá! - respirei e moderei o tom - Ele só é na dele... quieto. - completei. Eu não sei o que me deu naquela hora para me alterar com o Marconi...

Marconi continuou rindo, mas parou de falar.
Seguimos nosso caminho.

Uma turma de super-heróis passou por nós tocando trombetas. Voltei ao presente.

-- Lino é muito gente fina... - lembrava do rosto dele sorrindo.

Dei conta de que Deguinha me encarava.

-- Nós formamos um trio e tanto! - completei rapidamente incluindo o Zé na equação.
-- Você quer dizer 'um casal', né? - provocou ela com uma sobrancelha erguida.
-- Não. Um trio... Tem o Zé também. - ela já sabia quem era o Zé - Nós três somos imbatíveis no balcão de atendimento. - e dei um gole na minha caipifruta de novo.

-- Mas você não está apaixonada pelo Zé... - sentenciou Deguinha.

Eu quase me engasguei.

-- Que isso, Deguinha! - disse tocando os dedos na boca pra ver se não tinha babado - Tá doida!? - respirei - Eu não te disse que estava até com medo do cara!?
-- Esse medo tem outro nome... - fez uma cara presunçosa - "Amor à primeira vista". - afirmou com teimosia, parecia uma garotinha.

Eu fiquei púrpura! "Amor a primeira vista"!?
Isso que dava eu ter uma confidente. Ainda bem que eu não falava de Agnostha. Se tivesse falado, ela iria achar que eu era uma E.T. Da onde ela tirou aquilo? Pra que é que eu fui fofocar sobre o IF com ela? Deguinha tinha uma imaginação muito fértil mesmo... Imagine só: o cara mais quieto da universidade namorando a garota mais agitada do curso!? Que mistura!...
Isso que dava ficar dois meses sem pegar ninguém... Era só aparecer algum comentário sobre meninos e já estavam me arranjando namorado... Ai, se o garoto fica sabendo disso! Que vergonha! - meus pensamentos viraram um turbilhão.

-- Que amor o quê, Deguinha!? Para de graça! - ordenei.
-- Você está gostando dele, sim! - insistiu, com a mão na cintura - Olha só como você fica alterada quando fala nele... - fez uma cara de sabichona.

Aquilo me irritou.

-- Alterada!? Quem está alterada aqui!? - bufei.

Cada uma olhou para um lado fazendo bico. Depois, ela cruzou os braços e olhou para o povo que passava.

-- Tá, Lia. Vamos fingir que eu não disse nada, está bem? - resignou-se.

Eu cruzei meus braços também e quase amassei meu copo plástico. Olhei para a multidão. Eu tinha que mostrar para ela que eu não estava interessada em ninguém. Nem no Marconi e muito menos no Lino. Chamei ela para darmos outra volta.

Deguinha conhecia milhões de pessoas. Não demorou muito até encontrarmos um colega dela, que por acaso, estava acompanhado de outro colega.
O outro rapaz, Rafael, devia ter minha idade. Um moreno lindinho: mais ou menos da minha altura, cabelos negros ondulados. Hum... Nada mal... - pensei.

Papo vai, papo vem... Você sabe como é... Depois de meia hora eu estava beijando um e Deguinha o outro. (Eu sou agnosta mas não sou santa! )

Ficamos namorando e papeando até meia-noite mais ou menos.
Os meninos foram bonzinhos e nos levaram em casa... Quer dizer, até nosso quarteirão. O pai da Deguinha não poderia saber que ela estava namorando - e que a amiga mais velha, e supostamente responsável, estava dando cobertura - e eu não queria que o rapazinho soubesse exatamente onde eu morava... Duas fugitivas...

Na despedida, combinamos de nos encontrar de novo no domingo de Carnaval.

Eu e Deguinha fomos caminhando e fazendo comentários acerca de nossa sorte.
Nenhuma das duas estava entusiasmada. Era só passatempo. Mas era Carnaval, era festa, éramos jovens e ter companhia era bom.

Eu não me sentia muito bem quando deitei em minha cama.

As palavras de Deguinha misturavam-se com flashes dos meus dias com Lino reprisando em minha memória.
As conversas no balcão sobre cinema e trabalho; na copa, sobre música (ele adorava os Scorpions e eu Roxette); no caminho, sobre família; o jeito que ele ficava quando eu e o Zé zoávamos ele; os risos quando ele tomava parte da zoação parecendo mais leve; os olhos orientais misteriosos quando o silêncio dele dava o tom do dia...

Ai, meu Deus... - eu me sentia confusa. Puxei o lençol.
Eu sabia que ele era meu amigo. Disso eu tinha certeza. E eu não queria estragar nossa amizade com aquelas especulações bobas.
Por que fui falar do Lino pra Deguinha?...Será que foi o meu tom de preocupação que a alertou erradamente quando fiz o comentário sobre o amigo que sonhava que era um kamikaze?
Aliás... quem está preocupada aqui? ...Por mim, ele pode ser o próprio Dom Quixote que eu não estou nem aí...

Ai, meu Deus! - me virei na cama.

Não! Nada de se interessar pelo Lino! Não mesmo!
Ele já deixou bem claro que ele tem problemas demais na vida dele... não iria precisar de uma namorada maluca...

Suspirei.

Ah, Puxa!!! - veio aquele desconforto - Será que ele já tinha namorada!? Eu o conhecia há dois meses e nem sabia se ele tinha namorada ou não... Nós nunca havíamos falado sobre essa parte antes... Não mesmo...

Virei de novo. E se tinha? Que isso me importava? - humf! - Será que ele tinha? - fechei os olhos - Esquece!!! Você não está apaixonada por ele! Para de fantasiar as coisas!

Pisei duro por entre a multidão. Sem fantasias! - coloquei as mãos na cintura, olhei para um lado e para o outro achando o que queria. Sorri.

Rafael! Sim!... Rafael beija bem. É um ótimo passatempo!!!

As pessoas sambavam e brincavam se movendo em câmera lenta. Luzes piscavam assíncronas e o samba retumbava também em slow motion.

Caminhei por entre os arlequins e as colombinas hipercoloridos ficando frente a frente com ele.

Rafael enlaçou minha cintura e me apertou contra seu peito. Fechei os olhos e me pendurei em seu pescoço beijando-o.
Meus dedos se entrelaçaram nos cabelos espetados em sua nuca... Era bom beijar alguém tão mais alto que eu... Meu beijo se tornou mais ávido.... Deslizei uma das mãos pelas costas dele... Eu não queria fugir dos seus braços... Ele me envolveu mais. Sorri. Deslizei meus lábios pelo rosto imberbe encontrando aquela marquinha no queixo e a beijei.

Os tambores repercutiam no rítimo do meu coração... O abracei forte. Pousei minha face em seu ombro e, apesar da festa continuar ruidosa a nossa volta, senti uma imensa paz.
"Tarde demais..." - murmurou ele enquanto passava os lábios em meu pescoço.

Reconheci a voz.
Consciência.
Ai, meu Deus!!!
Acordei ofegante. Meu coração martelava.

Sentei na cama e me recostei na guarda. Meu quarto em silêncio.
Respirei tentando entender. O Rafael de meu sonho... que beijara entre arlequins e colombinas... se tornara Lino e eu... eu... Eu gostei!
Abracei as pernas e apoiei o queixo nos joelhos. Suspirei confusa.

"Tarde demais", ele dissera... Tarde demais?
Minha cabeça dava voltas.

Não. É melhor esquecer isso.... Melhor esquecer...

Nem me lembro se dormi de novo naquela noite.

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O resto daquele feriado prolongado passou como uma tortura chinesa.
Eu e Deguinha saímos com os meninos à noite, brincamos, lanchamos e namoramos, mas minha cabeça estava no IF. Me distraí o máximo que pude, mas sempre que ficava um minuto em silêncio, lembrava do sonho...

Eu não queria sucumbir àquela hipótese e toda vez que Deguinha tocava no assunto eu saía com evasivas. Fugi do assunto durante todo o feriado.

Na quarta-feira de cinzas, quando o garoto, Rafael, disse que iria lá em casa para continuar me vendo eu o cortei.
Dei a desculpa de ter uma vida muito agitada e ocupada e que não queria me amarrar. Não era exatamente uma mentira.
Ele também não se fez de rogado. "Quem eu estava pensando que era?" - era a cara dele quando se despediu de mim. Eu nem liguei.

Na quinta fui à praia, na sexta a um churrasco e no sábado à casa de parentes.
Quando Deguinha foi me ver para papear no domingo, eu mantive o plano e fugi de qualquer assunto que me fizesse falar sobre o IF. Preferi ouví-la.
Ela não era tola e percebeu que eu estava me forçando a não falar... mas era uma boa amiga e me deu espaço.
Me dispus a esquecer aquela bobagem toda. Eu gostava do Lino sim, mas como amigo e pronto.

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Na segunda-feira fui para a faculdade feliz.
Encontrei as amigas e passamos a manhã toda, entre uma aula e outra, falando em como fora o feriadão.
Ri, brinquei, me gabei um pouco por ter ficado com alguém... foi legal. Mas me sentia diferente.

Quando eu e Lili conseguimos - por um milagre - ir sentadas no ônibus que ia para o Fundão, ela começou:

-- Então o Carnaval foi bom, hein? - comentou - Por que não ficou namorando o rapaz? Você está só, não está?

Dei a mesma desculpa que dera ao Rafael. E após ouvir, ela respondeu: "Sei." - e olhou pela janela.

Eu já estava com aqueles "Sei's" dela meio que atravessados na garganta, e naquele dia em particular, eu estava mais propensa a discutir:

-- Qual é, Lili? - incitei - Não estou entendendo esses "Sei" seus... - sorri sem graça - Está querendo insinuar alguma coisa?

Ela riu, segura de si.

-- Qual é você, Alya? Não vê que só existe um motivo pra você não querer se ocupar com outro alguém nesse momento?

Eu perguntei, imaginando a resposta.

-- Que motivo?
-- Lino.

Aquilo me doeu. Era o assunto que me incomodara todo o feriado. Parecia que estava escrito em minha testa. Eu tentara inutilmente disfarçar rindo e brincando com todos, mas as pessoas que me conheciam bem, como Deguinha e Lili, viam a confusão em mim.

Minha máscara de onipotente caiu. Um misto de vergonha, frustração e surpresa passaram por mim.

Juntei as mãos sobre a mochila pousada em meu colo e olhei pro corredor. O ônibus chacoalhava em seu caminho.

-- Já está tão na cara assim? - perguntei com uma pontada de tristeza.

O sorriso dela se ampliou, satisfeita por eu ter praticamente admitido.

-- Pô! É tarde demais, minha querida... Você já está apaixonada pelo cara... e não é de agora...

"Tarde demais".

Me senti como um cubo Rubik sendo finalizado. Todas as faces de uma só cor. Tudo se encaixava.
O misto de medo, ansiedade e desejo de ficar perto dele... com ele. O sonho, o beijo e a sensação boa que vinha junto... e o sentimento novo e desconhecido que se somava àquilo tudo.
Era fato. Eu devia mesmo estar gostando do cara. Não podia mais ignorar esse sentimento.

E agora?
Eu não sabia como lidar com aquilo. Quer dizer, eu nunca tinha gostado de alguém antes - claro que já tinha me apaixonado por cantores de rock e ídolos do cinema, mas aquilo era diferente...
Todas as vezes em que namorei, eu estava gostando do cara; mas não daquele jeito... Eu nunca havia passado por uma amizade que se transformasse em algo mais. Pra mim, amigo era amigo, e paquera era paquera. Coisas bem distintas. Tanto que eu não sentia nada semelhante em relação ao Marconi...

Passei a mão pelos cabelos lentamente, olhei pra ela e soltei o ar que não sabia que estava segurando.

-- Como deixei isso acontecer...? - balancei a cabeça - E agora? - perguntei impotente.

Ela sorriu torto.

-- E agora nada, amiga. Você vai lá e diz pra ele que esta gostando dele e pronto! - respondeu.
-- Nem pensar!!! - disse enfática - Ele não gosta de mim desse jeito e eu não quero acabar com nossa amizade! Além disso, acho ele não iria ficar com uma garota amalucada como eu... - suspirei - Ele deve preferir as mais quietinhas. - e ri sem graça.

Ela franziu a testa.

-- Que isso, Alya? - comentou - Você é animada, e não "amalucada". E você é quieta. Você é mais reservada do que aparenta.

Nossa... Lili era tão observadora. Tanto quanto Deguinha. Tão sensíveis.

Sem conhecer as motivações, elas conseguiram captar minhas máscaras e meus sentimentos em relação ao Lino, antes até do que eu mesma percebera... E eu me achando "A perceptiva", "A sonhadora"... Só tenho a agradecer aos céus por ter me dado amigas como elas...

-- Tá Lili. - concordei - Mas vamos deixar tudo como está, ok? - gesticulei. Me lembrei que eu os tinha apresentado - Nem uma palavra Lili... Por favor. - pedi.

Ela sorriu complacente.

-- Tá bom. Tá bom. Eu quase não vejo ele mesmo... Mas acho que você deveria falar dos seus sentimentos pra ele...
-- Vamos ver como as coisas ficam... - suspirei e sorri - Eu lido com o que vier... - estava tentando me convencer.

Lili me empurrou com seu ombro num gesto carinhoso.

-- Torço por você, amiga. - e me sorriu fraternalmente.
Eu retribui.

O ônibus seguia chacoalhando.
O meu coração era uma passarela pisoteada pelos sentimentos que desfilavam nele enquanto eu me aproximava do Fundão.

(Próximo Capítulo)

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